100Grana Viu: O Lobisomem

Remake do clássico de 1941 traz de volta o mito do homem que se torna lobo e supera os mais recentes filmes sobre o assunto. Mas isso não quer dizer grande coisa.

Licantropia é a capacidade ou maldição caída sobre um homem que se transforma em um lobo. Em psiquiatria, é um distúrbio onde o indivíduo pensa ser ou ter sido transformado em qualquer animal. O termo provém do grego lykánthropos (λυκάνθρωπος): λύκος, lýkos (“lobo”) + άνθρωπος, ánthrōpos (“homem”).

Esse significado sobre a loucura de alguém com uma “maldição” é tão bem explorado em O Lobisomem (2010) que só essa discussão já teria sido o suficiente para elevá-lo ao ranking de melhores do gênero. Mas isso fica praticamente impossível num mercado onde o foco tem que ser a pirotecnia, a violência, o romance e ação, fazendo com que qualquer obra um pouco mais popular vire blockbuster. Tá, eu sei que foi muito bom voltar às origens e ver um lobisomem macho nas telas depois de ver tanto filhote de husky siberiano depilado por aí (Jacob Black, oi?), mas a gente não pode engolir qualquer coisa.

Lembram daqueles boatos que cercaram a produção, evidenciando que as filmagens passaram por problemas de aprovação do estúdio, edição e até refilmagens de algumas cenas? Pois é, eu senti isso mudar na tela.

Lee X Leterrier no mesmo filme

Logo que acabou o filme fiz uma analogia que vale a citação aqui. A impressão que eu tive é que uma parte do longa puxou para o drama, bem ao estilo Hulk, de Ang Lee (2003). Desenvolvimento de personagens, conflitos internos entre homem e fera, romancezinho meio distante e etc. De uma hora pra outra, a trama muda completamente de ritmo, relembrando o reboot do gigante verde da Marvel, O Incrível Hulk de Louis Leterrier (2008). Aí virou uma correria sem fim. Violência, tiro e morte pra tudo quanto é lado. As especulações davam conta de que o produtores não queriam arriscar ao colocar um dramalhão nas telas e deixar o elemento pipocão de lado. O resultado: o filme funciona mal nas duas vertentes.

Diretor não soube domar a fera

Ok, já dei uma pincelada no que eu achei do filme. Vamos à trama para eu poder entrar em detalhes. Benicio Del Toro é Lawrence Talbot, que retorna à Inglaterra da era Vitoriana para se reconciliar com seu pai (Hopkins). Talbot, então, apaixona-se por Gwen Conliffe (Blunt). Logo, Talbot acaba salvando Gwen de um lobo, mas é mordido e descobre que na verdade era um lobisomem e que agora também se tornou um.

Joe Johnston é um cara meio instável na carreira. Fez filmes legais como Rocketeer e Jumanji mas cometeu bombas como Pagemaster e o pior que chute no saco, Jurassic Park III. Agora imaginem chegar em uma produção cheia de problemas, substituindo a primeira opção na direção e tendo que “consertar os rumos” da coisa. Tava na cara que ele não ia segurar o tranco.

A impressão que dá é que ele ficou perdido ao dar um clima, um ritmo pro filme. As cenas acontecem meio às três porradas, com cortes secos, nem dá pra saber o que tá acontecendo direito. Até nas cenas de extrema violência, que deveriam ser legais por natureza, deixaram a desejar.

Sem contar que ele se utilizou do recurso mais irritante em filmes de terror, o famoso susto gratuito. Eu sou parceiro da ideia de que você tem que se assustar com o que está acontecendo em tela com a ajuda da sonoplastia e não só por conta dela.

Anthony Hopkins leva o filme nas costas

Quanto ao elenco, posso dizer que a decepção foi ainda maior. Benicio Del Toro tem cara de bicho mas tava no piloto automático e com cara de azia o tempo inteiro. Emily Blunt já esteve mais bonita em outras ocasiões e estava mais sem sal do que a pipoca que eu estava comendo. Os dois tinham menos química do que dois torcedores de Remo e Paysandu conversando. O romance simplesmente não funciona. Hugo Weaving tava o Agente Smith da era Vitoriana. Só faltou o “Mr. Talbot, welcome back”.

E tinha também nosso querido Hannibal Lecter, Anthony Hopkins que roubava todas as cenas em que aparecia. Pena que sua cena final tenha sido tão desnecessária. A luta entre pai e filho poderia ter terminado um pouco mais dramática, sem tudo aquilo de porrada.

‘Cause this is thriller, thriller night

Rick Baker, responsável pela incrível maquiagem de Thriller de Michael Jackson é o manda-chuva no setor aqui também. Só esqueceram de avisar que já se passaram quase três décadas desde que o rei do pop virou lobisomem e zumbi pelas mãos dele. Benicio Del Toro nem precisava de muito esforço, é verdade, mas precisava ficar tão amador? As primeiras imagens que saíram prometiam tanto e na hora do ‘vamo ver’ ficou beirando o trash. A mesma coisa eu não posso dizer do CG que salvou certas cenas, principalmente na transformação e nas cenas de perseguição em cima dos prédios. Não sei exatamente se a proposta era ser um filme B. Se era isso, foi muito mal vendido e nem precisava ter CG.

Não se deixe enganar por essa imagem...

Quero deixar claro que o longa tem sim, seus bons momentos. Aliás, seu bom momento. E se você é um liso de raiz, daqueles que só assistem filmes no cinema se forem “os melhores filmes de suas vidas” não percam tempo nem dinheiro e assistam à única cena que realmente vale a pena em todo o seu esplendor aí embaixo:

Esse vídeo é a síntese do filme. Drama antes, violência depois. Único momento que esse combo funciona. Ainda rola uma morte digna de Stage Fatality do Mortal Kombat.

Se for encarado como uma legítima homenagem ao filme original, até que diverte. Até porque ficou tão tosco quanto naquela época.

Cotação: R$ 6,50 de R$ 10,00

O Lobisomem tem no elenco  Benicio Del Toro, Anthony Hopkins, Emily Blunt e Hugo Weaving e direção de Joe Johnston.