100Grana Viu: This Is It, o último filme de Michael Jackson

Um filme feito com amor. L-O-V-E.

Caso Michael Jackson não tivesse “morrido” (entre aspas mesmo), nunca, nunca veríamos algo como This Is It. No máximo, algumas de suas cenas entrecortadas e editadas de forma muito menos crua em um featurette da turnê que estava pronta para estourar em Londres. Jackson era um perfeccionista extremado e não permitiria que fosse mostrado em situação diferente do que considerasse “seu melhor”, ainda que como curiosidade ao fã.

A criatividade e o perfeccionismo do astro expostos para quem quiser ver.

No entanto, perderíamos alguns momentos que realmente valem à pena ser vistos, mesmo que alguns deles eu ainda não saiba dizer se valem à pena na tela grande. Então, poder observar o trabalho de bastidores de um dos maiores astros da história é curioso, pelos momentos mais humanos e pelos momentos “diva de Hollywood”. Jackson, ainda que visivelmente debilitado (honestamente, a impressão que dá é que ele poderia ter morrido no palco durante a turnê), parecia senhor de cada detalhe de produção, cada nota, cada passo do grupo de dançarinos. Mesmo quando reclamava, o fazia com educação e era correspondido pelo respeito que impunha à equipe.

Isso sempre foi a prática dele, só que não tínhamos visto ainda. O diferencial , fora o fato de tudo ter sido gravado para DVD (é notável a baixa qualidade de algumas das imagens) atende pelo nome de Kenny Ortega. Sim, o diretor da trilogia High School Musical e de mais alguns trabalhos considerados “de menina” por muita gente. Sendo frio e calculista, HSM não agrada a mim e a muitos por uma razão particular: é um produto específico para um nicho, de rápido consumo, até porque a faixa etária do público alvo é bem curta (de oito a quatorze anos, mais ou menos). Não se pode negar, por outro lado, que os filmes da Disney recolocaram os musicais em voga novamente, faturando bem mais do que outras tentativas recentes e quase relembrando o sucesso (e não necessariamente a qualidade) de filmes de outrora, da época de, vejamos, Fred Astaire, Ginger Rogers, Gene Kelly, Sinatra…

Michael e o diretor Kenny Ortega: parceria eficiente e respeitosa.

Michael Jackson, na minha opinião, não poderia ter acertado mais na escolha de Ortega, velho conhecido seu de duas outras turnês. Felizmente para o filme e infelizmente pelo que aconteceu, o diretor teve que voltar ao material e editá-lo para o lançamento nos cinemas, muito provavelmente com uma pressão enorme do estúdio AEG Live, apontado freqüentemente como vilão que forçaria Michael a fazer mais shows do que podia e de querer explorar sua imagem ao máximo depois da morte.

Noves fora, milhares de pessoas, obviamente motivadas pela verdade absoluta de que o ser humano tem curiosidade mórbida e cultua mais as pessoas depois que morrem, mas também por pura e simples saudade, correm às salas e podem ver trechos do que estava preparado para ilustrar os grandes sucessos da carreira de Michael Jackson, que era fascinado por cinema e tirou da cartola boas surpresas. Smooth Criminal ganharia como coadjuvantes ninguém menos que Humphrey Bogart e Rita Hayworth, bem ao estilo dos áureos tempos dos filmes de gângster. Já outras músicas ganham tratamento de superproduções sci-fi, bem como o gosto de Jackson pelo militarismo fica novamente evidente em They Don’t Care About Us.

Fãs desde a infância, os bailarinos tiveram momentos marcantes com o ídolo no palco.

Além de toda a pirotecnia e efeitos que realmente ficariam incríveis ao vivo, o filme se apóia mais firmemente nas pessoas que rodearam o cantor durante esse período de preparação. A maioria da equipe de bailarinos e alguns dos membros da banda encontrava-se na faixa dos 20 anos, tendo sido fãs de Michael Jackson desde que se entendem por gente e demonstram emoção de terem sido escolhidos para se apresentar lado a lado com seu ídolo, que, como se pode ver, abria muito espaço para que eles pudessem brilhar. Destaque absoluto deste liso que vos escreve para duas beldades que merecem virar musas: a guitarrista Orianthi Panagaris, loirinha pequenina que vira uma gigante ao lado do Rei do Pop e tira onda em Beat It, sem dever nada ao original do mestre Eddie Van Halen e Judith Hill, backing vocal que demonstra seu poder na bela I Just Can’t Stop Loving You em dueto com Jackson, impressionando tanto pela beleza vocal quanto pela inusitada ascendência nipo-africana (ou japo-negra, segundo o Dan).

A tchutchuquinha Orianthi Panagaris e o Rei.

Como o título sugere, This Is It é o que é. Uma colagem de pedaços de um trabalho não-finalizado que na mão de outro diretor seria simplesmente um caça-níquel mesquinho, mas que com a sensibilidade de Kenny Ortega e equipe e a aura de Michael Jackson torna-se, ainda que continue sendo um caça-níquel, algo feito por profissionais que amam muito o que fazem e que mesmo com a pressão do mundo em suas cabeças, conseguem transmitir às pessoas o melhor de si.

Para ver:
Orianthi Panagaris, Judith Hill e a banda de This Is It no Memorial de Michael Jackson cantando We Are The World:

Leia nosso mini especial Michael Jackson.